Notícia

João Eduardo Justi - Publicado em 16-12-2025 13:00
Jogo destaca lugares da memória negra na Região de Sorocaba
Material promove educação histórica crítica (Imagem: Reprodução)
Material promove educação histórica crítica (Imagem: Reprodução)
Estudantes do curso de Pedagogia - 8º Perfil (4º ano) do Campus Sorocaba da UFSCar desenvolveram o jogo "Lugares de Memória - Negros na Região Metropolitana de Sorocaba", como parte das atividades da disciplina Pesquisa e Práticas em Educação, ministrada pelo professor Marcos Francisco Martins, do Departamento de Ciências Humanas e Educação (DCHE-So). A proposta integra ludicidade, pesquisa histórica e educação crítica para ampliar a compreensão sobre a presença e as contribuições das populações negras na história local. O jogo foi aplicado com estudantes do 5º ano da Escola Municipal João Francisco Rosa, em Sorocaba, e combina duas versões: um jogo de memória físico, composto por pares de cartas com lugares de memória e informações explicativas, e um quiz digital desenvolvido na plataforma Wordwall.

Segundo o grupo responsável pela criação do material, entre os principais objetivos pedagógicos estão reconhecer os diferentes lugares de memória presentes em Sorocaba e na Região Metropolitana; identificar o predomínio de memórias hegemônicas, geralmente vinculadas à elite branca e a figuras consagradas; valorizar as contribuições africanas e afro-brasileiras para a formação social, política e econômica da região; evidenciar o apagamento e a falta de preservação de lugares de memória não-hegemônicos; e contextualizar e explicar a relevância histórica de cada local a partir da mediação pedagógica. 

Durante a atividade na Escola Municipal, cada vez que um par de cartas era encontrado, um estudante de Pedagogia da UFSCar realizava uma mediação com explicações sobre o local, sua história e sua relação com a população negra. Para o grupo, essa dinâmica foi fundamental para que as crianças compreendessem que "os Lugares de Memória Negros guardam narrativas de presença e resistência, mesmo quando não estão representados em monumentos oficiais".

O jogo físico segue o formato tradicional de jogo da memória, mas inclui diferenciais importantes, como a problematização histórica que acompanha cada acerto e que permite explorar os patrimônios cultural e social representados. Lugares visíveis e invisíveis, públicos e privados, são apresentados como elementos da história negra regional. Já o jogo digital de perguntas (quiz), disponível na plataforma Wordwall, foi criado com o intuito de tornar o processo educativo mais dinâmico e avaliar o nível de compreensão da turma. A ferramenta permite o acompanhamento do desempenho dos estudantes, mostrando acertos, tempo e classificação. 

A escolha dos lugares apresentados no jogo partiu de pesquisas bibliográficas, artigos científicos, dissertações, livros, vídeos educativos e visitas exploratórias, considerando sua relevância histórica para a população negra local, a presença ou ausência desses lugares na memória oficial da cidade e seu potencial para provocar reflexão crítica. O grupo buscou popularizar conhecimentos sobre a resistência da população negra, os espaços que ocuparam na região e as formas como essas memórias foram - e continuam sendo - silenciadas.

Para garantir precisão e responsabilidade pedagógica, o desenvolvimento do jogo levou em conta a consulta a pesquisas acadêmicas, materiais especializados e referências sobre história e cultura afro-brasileira, além do cuidado em promover uma abordagem crítica sobre os processos de apagamento histórico. A ludicidade foi articulada com uma aprendizagem significativa, aproximando as crianças da história do território onde vivem. Segundo os criadores, a experiência permitiu às crianças compreenderem melhor a formação da cidade e perceberem que muitos dos lugares estudados fazem parte de seu cotidiano, ainda que, muitas vezes, não sejam reconhecidos como espaços de memória negra.