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Adriana Arruda - Publicado em 08-12-2025 13:00
Projeto usa resíduos para impulsionar transição energética na UFSCar
Iniciativa utiliza sobras do Restaurante Universitário e material vegetal do Campus (Foto: Freepik)
Iniciativa utiliza sobras do Restaurante Universitário e material vegetal do Campus (Foto: Freepik)

A UFSCar está conduzindo um projeto que transforma resíduos orgânicos em energia renovável, com potencial para reduzir custos e emissões ligadas à coleta, transporte e disposição final desses materiais no Campus São Carlos. Coordenado pelos docentes Fábio Bentes Freire e Paula Rúbia Ferreira Rosa, do Departamento de Engenharia Química (DEQ), o estudo avalia o aproveitamento de restos de alimentos do Restaurante Universitário (RU) e da biomassa das podas das áreas verdes na produção de biogás e biometano, fontes energéticas capazes de substituir gás natural fóssil em aquecimento, geração de eletricidade e como combustível veicular.

A pesquisa está no segundo ano de execução e integra atividades práticas em laboratório, análises econômicas e estudos de viabilidade. A equipe estuda a biodigestão anaeróbia - processo em que microrganismos degradam matéria orgânica na ausência de oxigênio, produzindo biogás. A partir disso, são testadas diferentes combinações de substratos, pré-tratamentos e condições operacionais para otimizar o rendimento do sistema.

Segundo Freire, a proposta acompanha movimentos globais pela transição energética e pelo uso de tecnologias circulares. "A iniciativa busca comprovar que resíduos orgânicos, hoje subaproveitados, podem gerar energia local, reduzir impactos ambientais e se integrar a outras fontes renováveis. O objetivo é verificar, com rigor metodológico, se esse modelo pode ser escalado dentro da própria Universidade e futuramente replicado por outras instituições", descreve.

Além das etapas experimentais, o projeto inclui modelagem, simulação e análise de ciclo de vida do sistema, com base em protocolos internacionais e softwares específicos. Como parte do planejamento energético do Campus, a equipe também avalia a integração com sistemas fotovoltaicos, considerando disponibilidade de área, radiação solar média, padrões de consumo energético e cenários de retorno financeiro. Nessa perspectiva, a energia solar funciona como fonte complementar ao biogás e biometano, fornecendo eletricidade adicional e maior estabilidade ao conjunto energético local.

Freire reforça que a pesquisa não se limita ao desenvolvimento tecnológico, mas também examina condições reais de implementação. "Energia renovável envolve decisões de longo prazo, investimento inicial, governança e métricas de impacto. Nosso papel é entregar uma base sólida para que a UFSCar possa decidir com segurança se esse caminho é ambiental, técnica e economicamente viável", afirma.

Os resultados preliminares já foram apresentados em eventos científicos nacionais e internacionais, e artigos estão em fase final de elaboração. A iniciativa também integra atividades de iniciação científica, trabalhos de conclusão de curso e mestrado, contribuindo para a formação de profissionais especializados em bioenergia e gestão de resíduos.

Para o pesquisador, a dimensão formativa é parte essencial do projeto. "Criar conhecimento e formar pessoas capacitadas para lidar com os desafios da transição energética é tão importante quanto os resultados técnicos. Estamos contribuindo para uma cultura que entende resíduo como recurso, e não como problema", complementa.

Interessados em parcerias institucionais, técnicas ou científicas podem entrar em contato pelo e-mail bentes@ufscar.br. O projeto é financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq - Processo nº 403133/2023-8) e conta com colaboração da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da Universidade de São Paulo (USP), Universidade Estadual de Londrina (UEL) e University of British Columbia (Canadá).