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Adriana Arruda - Publicado em 15-09-2025 10:30
UFSCar licencia tecnologia para diagnóstico sorológico da hanseníase
Clyons assume desenvolvimento de testes criados em pesquisa da UFSCar (Foto: Adriana Arruda)
Clyons assume desenvolvimento de testes criados em pesquisa da UFSCar (Foto: Adriana Arruda)
No Brasil, cerca de 30 mil novos casos de hanseníase são registrados anualmente, segundo dados do Ministério da Saúde. Embora seja tratável com medicamentos, a doença ainda é classificada como negligenciada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em grande parte devido à dificuldade de diagnóstico precoce. Exames tradicionais, como a baciloscopia, são invasivos e pouco eficazes para detectar casos iniciais, e muitos pacientes só recebem confirmação quando já apresentam sequelas físicas.

Diante desse cenário, pesquisadores do Programa de Pós-Graduação em Química (PPGQ) da UFSCar, em parceria com a Universidade Federal do Paraná (UFPR), desenvolveram uma tecnologia de diagnóstico sorológico da hanseníase. A pesquisa foi conduzida por Sthéfane Valle de Almeida no escopo de seu doutorado, sob orientação do professor Ronaldo Censi Faria, do Departamento de Química (DQ) da UFSCar, e coorientação de Juliana Ferreira de Moura, do Departamento de Patologia Básica, da UFPR. Almeida é, atualmente, docente na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Segundo Faria, o teste é pouco invasivo, simples de aplicar e capaz de identificar não apenas pacientes sintomáticos, mas também contatos que carregam o bacilo sem manifestar a doença. "O dispositivo foi pensado para oferecer uma leitura rápida, de fácil interpretação e aplicável em regiões com pouca infraestrutura laboratorial, diferente dos métodos atuais", situa o docente. O estudo recebeu, em 2024, o Prêmio Capes de Tese, reconhecimento nacional à relevância do trabalho.

Do laboratório à aplicação clínica
A tecnologia foi protegida, negociada e licenciada com o apoio da Agência de Inovação da UFSCar (AIn.UFSCar) para a Clyons Diagnóstica, empresa-filha da UFSCar, uma startup considerada spin-off (originada de pesquisa acadêmica que se torna um novo negócio a partir de resultados científicos), com foco no desenvolvimento de biossensores para doenças humanas crônicas, oncológicas e infecciosas.

Segundo Thiago do Prado, diretor executivo da Clyons, a aproximação com a hanseníase foi estratégica: "O Ministério da Saúde lançou recentemente o programa Brasil Saudável: Unir para Cuidar, alinhado à Agenda 2030 da ONU e que prevê a eliminação de doenças infecciosas na América Latina. Era o momento certo para adaptar a tecnologia a um formato comercial e acessível. Nosso papel como empresa é transformar essa patente em produto validado e disponível ao Sistema Único de Saúde (SUS), especialmente para áreas endêmicas, onde o diagnóstico precoce pode mudar radicalmente a vida dos pacientes".

Lucas Catunda, diretor de dados e comunicação da startup, reforça a importância desse avanço: "A hanseníase não mata, mas incapacita. Muitos pacientes só chegam ao tratamento quando já não conseguem segurar um copo ou trabalhar na roça, o que os condena a sequelas irreversíveis. Além disso, mesmo após a cura, familiares e pessoas próximas podem carregar o bacilo sem apresentar sintomas, transmitindo novamente a doença. Nosso teste busca responder a esse desafio, ao permitir identificar tanto pacientes sintomáticos quanto contatos assintomáticos".

Para o professor Faria, a parceria com a AIn.UFSCar foi decisiva para o licenciamento. "O grande mérito da Agência foi criar condições para que a patente se transformasse em produto", afirma. Catunda complementa: "Além de proteger a propriedade intelectual e conduzir o licenciamento, a AIn equilibra as necessidades de quem pesquisa e de quem leva a tecnologia ao mercado. Essa ponte é o que permite que soluções saiam do laboratório e cheguem à sociedade".

Atualmente, o teste está em processo de validação clínica e registro junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). "Nosso compromisso é que a tecnologia seja útil para os profissionais que atuam na linha de frente, especialmente em regiões endêmicas. A ciência precisa servir quem mais precisa dela", conclui Prado.

Sobre a AIn.UFSCar
A Agência de Inovação da UFSCar (AIn.UFSCar) é, desde 2008, o Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT) da UFSCar. Criada para operacionalizar e fortalecer a política de inovação da instituição, a AIn tem como missão impulsionar a transformação de conhecimento científico e tecnológico em soluções de impacto econômico e social, promovendo a articulação entre universidade, empresas, setor público e sociedade. 

Com competências estruturadas em inovação tecnológica e social, a AIn.UFSCar é responsável pela gestão estratégica da propriedade intelectual, incluindo patentes, cultivares, programas de computador e desenhos industriais, transferência de tecnologia, empreendedorismo e inovação. Na frente de transferência de tecnologia, já foram celebrados contratos de licenciamento de mais de 90 tecnologias (dos mais de 570 ativos protegidos), abrangendo áreas como biotecnologia, engenharia, saúde, materiais, agricultura e software, com um acumulado superior a R$ 23 milhões em royalties. 

A Agência também coordena os fluxos institucionais para o uso de know-how e desenvolve ações para garantir segurança jurídica e valorização das criações acadêmicas. Mais informações em https://www.inovacao.ufscar.br.