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João Eduardo Justi - Publicado em 30-10-2024 13:00
UFSCar promove ação de preservação do Cerrado junto a crianças e jovens
Crianças e jovens de Itirapina participam do plantio de mudas (Foto: Acervo do projeto)
Crianças e jovens de Itirapina participam do plantio de mudas (Foto: Acervo do projeto)

No último dia 25 de outubro, a equipe do Laboratório de Ecologia de Interações, do Campus Sorocaba da UFSCar, esteve na Estação Ecológica de Itirapina para uma ação de restauração de uma área de Cerrado. A atividade contou com a participação de 30 estudantes, entre 6 e 14 anos, de escolas da região, e que são atendidos pela Associação Meninos da Aracy (AMA), também de Itirapina, cuja missão é atuar junto a crianças e jovens para superação das desigualdades sociais.

Durante a atividade, foram plantadas mudas típicas da vegetação de Cerrado, mas com um diferencial: essas mudas foram produzidas a partir de sementes retiradas de fezes de lobo-guará na região, cuja dieta foi estudada pelo pesquisador Renato D'Elia Feliciano, no Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Recursos (PPGERN) da UFSCar, sob orientação do professor Alexander Christianini, do Departamento de Ciências Ambientais (DCA-So) do Campus Sorocaba e coordenador da iniciativa. "A ideia foi construir uma espécie de 'jardim do lobo' com mudas de árvores cujos frutos o lobo consome, tornando a restauração mais amigável a essa espécie", afirma Christianini.

Ou seja, a partir do estudo das fezes do lobo-guará, foi possível além de identificar sua alimentação, coletar sementes que serviram para a formação de novas mudas que foram plantadas nessa área de preservação do Cerrado em Itirapina. "As sementes foram todas removidas das fezes de lobos-guarás obtidas durante o projeto de mestrado do Renato, que estudou a dieta e papel dos lobos na germinação das sementes. Como parte do estudo, ele precisou comparar a germinação das sementes removidas das fezes com aquelas retiradas diretamente dos frutos, para testar se a ingestão dos frutos pelos lobos alterava a germinação [o processo de crescimento da planta a partir da semente]. Assim, geramos muitas plântulas [embriões] de sementes recém germinadas. Resolvemos tentar aproveitar essas plântulas e com elas fizemos as mudas. Muitas morreram no caminho, mas usamos as que foram adiante para doações e para esse plantio", descreve o professor.

Em seu trabalho de mestrado, Renato D'Elia Feliciano detectou sementes de 23 espécies de frutos na dieta do lobo-guará em Itirapina. "Sementes de quase todas germinaram nos testes. Isso quer dizer que o lobo pode dispersar a maioria delas. Dentre elas, temos a gabiroba, o marmelinho, a uvaia, o abiu, o caqui-do-cerrado, o caraguatá, o jerivá e por ai vai. Nessa ação, foram plantadas 42 mudas de nove espécies diferentes incluindo todas essas, além da fruta-de-tatu e indaiá", indica Christianini.

Além do plantio, os estudantes participaram de palestra e de práticas lúdicas sobre o lobo-guará. "Sabemos que é pretensioso, mas gostamos de pensar que atividades como essas ajudam a plantar uma sementinha sobre a importância de cuidarmos da natureza e de como somos parte dela. Isso será bom para essas crianças, para o Cerrado, para o lobo-guará e para todos nós", defende o professor da UFSCar.

A partir do plantio, a intenção do grupo é monitorar o sucesso das mudas plantadas ao longo do tempo. "Estamos torcendo para elas crescerem durante as chuvas dessa estação para aumentar a chance de conseguirem atravessar a estação seca do ano que vem. Também pretendemos plantar mais mudas e reforçar o envolvimento com atores locais, para intensificar as ações de preservação da natureza e de educação ambiental", conclui ele.

A ação dos pesquisadores da UFSCar em Itirapina foi registrada pela EPTV (afiliada local da TV Globo). A reportagem está disponível aqui.