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Analice Gaspar Garcia - Publicado em 29-03-2021 17:15
ConsUni faz moção de repúdio à celebração da Ditadura Militar
Próximo ao dia 31/3, ConsUni se manifesta: Ditadura Nunca Mais (Arte: CCS/UFSCar)
Próximo ao dia 31/3, ConsUni se manifesta: Ditadura Nunca Mais (Arte: CCS/UFSCar)

O Conselho Universitário (ConsUni) da UFSCar aprovou na sua 247ª Reunião Ordinária, realizada na última sexta-feira (26/3), uma moção de repúdio a qualquer celebração referente à Ditadura Militar. O documento está disponível no site da Secretaria dos Órgãos Colegiados (SOC) da UFSCar e também pode ser lido aqui na íntegra:

Moção do Conselho Universitário da UFSCar - Ditadura Nunca Mais

Ao se aproximar o 31 de março, quando se completam 57 anos do Golpe Civil Militar no Brasil, mais que nunca é preciso resistir.

Em 2021, o Governo Federal, militarizado, foi à Justiça pelo direito de celebrar o 31 de março. E o obteve. Este é um retrocesso na memória do que foi a Ditadura Militar que não pode ser subestimado, e tolerado. Não há, obviamente, absolutamente nada a celebrar, só o que há é a necessidade de expressar o repúdio total e irrestrito a tudo o que foi e ainda representa a Ditadura, cujos impactos não apenas se sentiram durante sua vigência mas atravessam a sociedade brasileira até os nossos dias.

Não esquecer os períodos mais sombrios da Humanidade serve para que não se repitam. Lembrar, lembrar sempre, a privação de liberdade, a violência, a tortura e as milhões de vidas brutalmente tomadas no extermínio de populações indígenas, negras, de populações africanas e seus descendentes no contexto da diáspora e, depois, em eventos como o Apartheid, no Holocausto, em tantos genocídios e, enfim, na Ditadura brasileira e suas congêneres na América Latina, dentre outros momentos trágicos de nossa história, honra a memória de suas vítimas mas, sobretudo, nos lembra de onde não queremos novamente estar e, assim, das razões de nossa luta e resistência.

É esta, inclusive, uma das funções primordiais da Educação, evitar que esses episódios se repitam, o que aumenta a responsabilidade da universidade pública na luta pela democracia, por direitos e liberdade. Mas não só ela. As universidades e as pessoas que a constroem estiveram entre os principais alvos da Ditadura Militar e, hoje, pela mesma capacidade de crítica, resistência e transformação, voltam a ser atacadas. É, hoje e sempre, imprescindível prosseguir.

Pelo exposto, o Conselho Universitário da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), em sua 247ª Reunião Ordinária, deliberou por reiterar sua intransigente e vigilante defesa do estado democrático de direito, da liberdade de pensamento e expressão e, sobretudo, da vida. Não nos calaremos.

Na mesma Reunião, foi outorgado a Raduan Nassar o título de Doutor Honoris Causa e, assim, chamada a esta manifestação também a voz deste que mais honra a UFSCar que o contrário com o título que recebe, com a citação de diálogo entre André e o Pai em Lavoura Arcaica:

"- Não se pode esperar de um prisioneiro que sirva de boa vontade na casa do carcereiro; da mesma forma, pai, de quem amputamos os membros, seria absurdo exigir um abraço de afeto; maior despropósito que isso, só mesmo a vileza do aleijão que, na falta das mãos, recorre aos pés para aplaudir o seu algoz; age quem sabe com a paciência proverbial do boi: além do peso da canga, pede que lhe apertem o pescoço entre os canzis. Fica mais feio o feio que consente o belo...
- Continue.
- E fica também mais pobre o pobre que aplaude o rico, menor o pequeno que aplaude o grande, mais baixo o baixo que aplaude o alto, e assim por diante. Imaturo ou não, não reconheço mais os valores que me esmagam, acho um triste faz de conta viver na pele de terceiros, e nem entendo como se vê nobreza no arremedo dos desprovidos; a vítima ruidosa que aprova seu opressor se faz duas vezes prisioneira, a menos que faça essa pantomima atirada por seu cinismo.
- É muito estranho o que eu estou ouvindo.
- Estranho é o mundo, pai, que só se une se desunindo; erguida sobre acidentes, não há ordem que se sustente; não há nada mais espúrio do que o mérito, e não fui eu que semeei esta semente."

Ditadura Nunca Mais.

São Carlos, 26 de março de 2021.