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Tatiane Liberato - Publicado em 24-09-2020 13:00
UFSCar desenvolve biossensores eletroquímicos para detecção de Parkinson
Biossensores eletroquímicos (Imagem: Jefferson Henrique de Souza Carvalho
Biossensores eletroquímicos (Imagem: Jefferson Henrique de Souza Carvalho
A doença de Parkinson é uma doença degenerativa e progressiva de áreas específicas do cérebro, caracterizada pelo tremor dos músculos em repouso, pelo aumento no tônus muscular, instabilidade de movimentos e dificuldade de equilíbrio. Embora atualmente não exista cura para a doença, se descoberta precocemente, ela pode ser tratada de maneira eficaz, retardando a evolução dos sintomas. O desafio, no entanto, é que, até o momento, não há exames neurológicos e tomografias computadorizadas que demonstrem essas alterações físicas. Pensando na potencialidade dos marcadores biológicos auxiliarem a descoberta nos estágios iniciais de diversas doenças, os pesquisadores do Departamento de Ciências da Natureza, Matemática e Educação (DCNME) da UFSCar, Bruno Campos Janegitz, Gabriela Carolina Mauruto de Oliveira e Jeferson Henrique de Souza Carvalho, numa parceria com Laís Canniatti Braazaca da USP e Nirton Cristi Silva Vieira da Unifesp, desenvolveram uma tecnologia que determina dois biomarcadores - a dopamina e a proteína DJ1 - relacionadas com a doença de Parkinson. 

A patente de invenção, intitulada "Eletrodos flexíveis de platina utilizados como biossensores eletroquímicos para determinação de biomarcadores relacionados ao Mal de Parkinson e método de fabricação", realiza a análise eletroquímica através da utilização da dopamina de uma amostra, inserindo-a no eletrodo e determinando a disfunção dos biomarcadores que significam que o paciente tem a predisposição de desenvolver o Parkinson. Isso acontece porque a proteína DJ1 atua no bloqueio da sinapse, e sua disfunção faz com que a estrutura física do paciente comece a tremer.

De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde de 2018, 1% da população mundial acima de 65 anos já convivia com a doença de Parkinson, sendo que, no Brasil, a estimativa é de que ela acometa mais de 200 mil pessoas. Considerando a expressividade destes números pouco explorados na literatura científica, o grupo liderado por Bruno Janegitz investiu em atuar na detecção de doenças autoimunes acreditando num mercado promissor de tratamento através da indústria farmacêutica. "A detecção de uma doença neurológica tão debilitante quanto a Doença de Alzheimer que leva o paciente à demência ainda é limitada".

Levando cerca de um ano para ser desenvolvida - desde os testes preliminares em amostras sintéticas - durante a pesquisa de mestrado em biotecnologia de Gabriela de Oliveira, os diferenciais desta tecnologia se referem à portabilidade, agilidade e sustentabilidade. "É um equipamento novo que pode ser levado e utilizado em qualquer hospital e laboratório de análises, levando cerca de 5 horas para oferecer o diagnóstico. Além disso, por se tratar de um filme de platina flexível, o sistema pode ser facilmente descartado", explicou Janegitz.

A tecnologia poderá interessar às indústrias farmacêuticas e laboratórios nacionais e internacionais, e foi recentemente publicada em revista de alto impacto e uma das mais importantes na área de biossensores. Para estar disponível no mercado, no entanto, a tecnologia carece do interesse da indústria, além de incentivo governamental com impostos negociáveis a partir de seu licenciamento. O pesquisador acredita que o alinhamento do Governo poderia destravar a inovação no Brasil à medida que os empresários entendessem que diversas soluções podem ser desenvolvidas dentro das universidades, e produzidas em larga escala no Brasil, com baixo custo e fácil acesso. Nesse sentido, do ponto de vista sintético, todas as etapas foram realizadas em escala laboratorial, mas há a necessidade de realizar os testes clínicos com amostras de pacientes com a doença através de parcerias com hospitais e indústrias farmacêuticas ou médicas visando validar como os biomarcadores se manifestam. 

O grupo já atua com produtos patenteados para detecção de proteínas para doenças neurológicas desde a pesquisa de doutorado de Janegitz. Neste momento, com apenas cinco anos de trabalho e diversas pesquisas na área da saúde, o grupo interrompeu suas atividades e redirecionou esforços para a Covid-19 em meio à pandemia mundial. Além de estudar o tema a fim de entender o percurso do vírus, eles reuniram outros pesquisadores de diferentes áreas e montaram grupos de trabalhos para submissão de projetos das agências de fomento à pesquisa. Segundo o pesquisador, no momento, o grupo atua em trabalho financiado pela Capes para a Covid-19, propondo estes mesmos sensores de platina flexíveis para a detecção do vírus em parceira com outros professores. "A tecnologia é tão abrangente que poderá ser testada para detecção de vírus, fungos, bactérias etc. para verificar a ligação do anticorpo relacionado a determinada doença no eletrodo, ou seja, podemos estender o procedimento da patente para qualquer patógeno".

Reconhecido o potencial direto da tecnologia, Janegitz evidencia a importância do trabalho realizado dentro das universidades e institutos de pesquisas para a produção de bens de consumo para a sociedade. "Sempre ressalto que sozinhos não fazemos absolutamente nada, pois são necessárias muitas ideias e discussões com parceiros e executores para que as coisas saiam do papel. Hoje, mais do que nunca, podemos dizer que a ciência é muito importante e a inovação pode gerar oportunidades incríveis de transformar a vida das pessoas", finalizou.

Esta tecnologia e todo o portifólio da UFSCar estão disponíveis no site da Agência de Inovação da UFSCar.